Acabo de ler um livro muito importante para minha formação diânica: Wildfire, de Sonia Johnson. Apesar de tê-lo achado muito agressivo, como nas partes em que ela fala que todos os nossos filhos, homens, são monstros e em outra em que ela diz que aids é doença de homossexual – ok, esse livro foi escrito na década de 1980 (rs) –, creio que é um livro muito inspirador, já que a idéia central dele é “fingirmos” que o patriarcado não existe para tentarmos criar uma realidade nova e diferente para as mulheres.
Como a própria autora diz, é um livro para quem quer se tornar livre e, segundo ela, primeiro precisamos nos libertar para depois ajudar a libertar a mente das outras pessoas. Precisamos nos desprogramar de toda a lavagem cerebral que o patriarcalismo nos causou.
Por exemplo, o patriarcado nos ensinou a enxergar que a realidade está fora de nós, quando Sonia explica que a realidade, na verdade, está dentro de nós. Somos nós quem criamos essa realidade a partir de nossas expectativas e crenças, a partir daquilo que percebemos como possível. Portanto, segundo ela, no mesmo instante em que o patriarcalismo não estiver mais vivo em nossos corações e mentes, ele também não existirá mais como realidade.
Sonia faz ótimas observações sobre a militância feminista que realmente me surpreenderam. Por exemplo, diz que a resistência é uma forma de reconhecimento e de aceitação do fato de que não possuímos poder algum. Um simples exemplo de como nossos corpos não são de fato nossos é entregarmos a saúde de nossos órgãos a ginecologistas homens.
Lutamos para que as mulheres tenham direitos, no entanto não paramos para pensar que o sistema legal foi feito para manter o patriarcalismo intacto, já que as leis são feitas por homens. (Apesar de eu não votar, acredito que aqui se justifique a intenção de colocar mais mulheres na política. Aliás, numa pequenina nota de rodapé, Sonia diz que “se o voto mudasse alguma coisa, ele seria ilegal”.)
Johnson diz que o sistema tirânico que existe, de dominação das mulheres por parte dos homens, é um acordo, e que ambas as partes seguem-no “com dedicação”. Sendo assim, só conseguiremos ser livres no momento em que nós mesmas nos libertarmos.
A solução, segundo a autora, é: precisamos nos comportar como se o patriarcado não mais existisse agora, pois um dos crimes mais cruéis deste foi nos ensinar a projetar nossos pensamentos no futuro, em algo que ainda não existe. O futuro só será como queremos se agirmos como queremos que ele seja AGORA.
Uma das questões discutidas no livro, para a qual eu nunca havia tido uma resposta até agora, é o fato de algumas mulheres apanharem dos maridos e ainda assim não os abandonarem. Sei que há uma questão financeira atrás desse fato, na maioria das vezes, mas nunca entendi bem a questão psicológica, que semprei achei que existia. Ela explica que esse homem isola a mulher, para que ela só possa perceber a perspectiva dele e, quando ela sofre, mesmo que esse mesmo homem bata nela, como ela não tem nenhum outro de relacionamento para apoiá-la, como vítima, ela se agarra ao aspecto apoiador e positivo do marido.
Um outro mito interessante que a autora tenta desfazer é o da igualdade. Lutamos tanto por ela, mas toda igualdade requer comparação primeiro, e a comparação significa colocar-se diante de padrões externos, feitos por outras pessoas. Na opinião da autora, o conceito de igualdade é profundamente patriarcal e só é possível para mentes “dualísticas”.
Todos reconhecem que a mulher, atualmente, desempenha diversas tarefas, como a de mãe, profissional e amante. Esquecemo-nos, porém, que esse auto-sacrifício nos foi também imposto pelo patriarcado. Matar-se de trabalhar para ganhar dinheiro ou se matar para cuidar dos outros não são atos tão inocentes assim. A falta de tempo de que todos andamos reclamando tanto tem seu motivo, mesmo que oculto, de ser: manter todos aprisionados ao sistema patriarcal.
Precisamos parar de nos comportar como homens e aceitar que somos diferentes. Precisamos deixar de lado a culpa que o patriarcado colocou por sobre as mães. Precisamos começar a ouvir nossas próprias vozes novamente. O poder está dentro de nós. Só nós mesmas podemos mudar o mundo. Se não começarmos a nos levar a sério, ninguém o fará.
Danielle Sales
Tem um Selo no meu blog Kharis Selene para você.
ResponderExcluirhttp://kharisselene.blogspot.com/
oi, danielle!
ResponderExcluirgostei da resenha e fui procurar mais na net a respeito. achei um site (wildfireforwomyn.com) que achei meio nova era demais, e distante da resenha interessantíssima que vc fez aqui, embora se assuma baseado no ensinamento da sonia. vc pode fazer um comentário a respeito? um beijão, celia
O livro parece interessante e vou procurá-lo. De qualquer modo a nossa libertação também passa pela sexualidade, uma sexualidade que se encontra colonizada. Passe pelo meu blog, gostaria que lesse o meu ultimo post sobre sexualidade feminina e masoquismo.
ResponderExcluirabraço, adília
Gosto muito de seu blog!Atualmente penso em fazer um post sobre mulheres que decidem ser donas de casa em "tempo integral" e o preconceito que sofrem quando fazem essa escolha, a mim, me parece que as feministas perseguem quem escolhe este caminho, gostaria muito de sua opinião acerca deste assunto, sugiro também um post.
ResponderExcluirbeijos!
Meninas,eu não estava recebendo e-mails sobre os comentários deste blog, por isso a demora.
ResponderExcluirCelia, eu não conhecia esse site, obrigada por avisar sobre ele. Pelo que percebi, criaram-se programas de tevê baseados na obra da Sonia e já são muitos os episódios produzidos. Vou dar uma olhada neles e depois dou minha opinião, tá?
Adília, eu tenho o Wildfire em PDF. Escreva para doithersel@gmail.com e terei prazer em lhe enviar uma cópia.
Aine, acho sua idéia muito, muito interessante. Escreva para o doitherself@gmail, me adicione em seu MSN (se tiver) e vamos conversar mais a respeito.
Obrigada a todosa por lerem!
Sabe que eu me pego pensando a mesma coisa sobre a igualdade. Não quero ser igual a homem nenhum, não quero os privilégios imerecidos dos quais desfrutam dentro do padrão que eles mesmos criaram. Sempre achei que quando nós mulheres conseguirmos gerir nossa vida à nossa maneira, veremos algo bem diferente do que tem sido feito até agora, então essa igualdade hoje pretendida simplesmente não faz sentido.
ResponderExcluirAté aqui temos sido muito reativas, precisamos parar tudo e olhar para o lugar certo: nós mesmas.